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Crônicas

Causando na fronteira: uma aventura entre Tailândia e Camboja

por Tainá Costa

Quando você pensa em fazer uma viagem para o Sudeste Asiático e quer visitar a Tailândia e o Camboja, qual meio você pensa em utilizar para cruzar a fronteira de um país para o outro:

a) Avião, óbvio!

b) Se tiver trem, eu vou de trem porque é mais seguro.

c) Quatro horas de ônibus, com travessia da fronteira a pé e depois mais três horas num táxi não oficial pra chegar até a cidade de destino.

d) Nenhuma das alternativas. Eu nunca iria para o Sudeste Asiático.

Se você respondeu letra C, isso revela muito da sua personalidade. Bem vindo ao grupo dos aventureiros. Neste texto você encontrará informações sobre como entrar nessa fria/aventura/experiência de vida que é atravessar a fronteira a pé.

Depois de passar 30 horas fazendo o trajeto Brasil-Tailândia de avião, eu e meu namorado chegamos em Bangkok e fomos direto para a rodoviária pegar um busão pra fronteira com o Camboja. O destino era uma cidade chamada Poi Pet. Conseguimos achar fácil o guichê que vendia as passagens e tinha um ônibus saindo em poucos minutos. Não tivemos tempo nem de comer nada (o que pode ter sido uma boa coisa, porque convenhamos que comida de rodoviária deve ser ruim em qualquer lugar do mundo — agora imagina na Tailândia, onde vendem escorpião frito como tira gosto?).

Entramos no nosso ônibus. A viagem correu bem e pra nossa sorte tínhamos comprado um chip de uma operadora Tailandesa no aeroporto, então tínhamos 3G para acompanhar nossa localização no Google Maps — 20 dólares por 20 dias e a internet pegava até em alto mar (muuuuito melhor que no Brasil).

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Ao chegar na fronteira, passamos rapidamente pela imigração Tailandesa, onde carimbaram nossos passaportes. Saímos de lá felizes porque tinha dado tudo certo. De acordo com os relatos dos blogs de viagem, o próximo passo seria pegar um táxi e o ideal seria procurar outros estrangeiros para dividir e deixar a viagem mais barata e segura. Só que nós olhamos ao redor e estava vazio. Então bateu aquele pânico de estar no lugar errado, em algum ponto do mapa entre a Tailândia e o Camboja.

A reação foi andar o mais rápido possível na esperança de encontrar um outro estrangeiro perdido. Nessa correria, um cara nos abordou oferecendo táxi para o nosso destino final, Siem Reap. Nós agradecemos, mas ele continuou atrás da gente falando algo sobre stamp. E a gente sem entender, porque tínhamos acabado de carimbar nosso passaporte na imigração.

Continuamos andando e ignorando o homem. Até que, ao passar por um corredor começamos a ouvir gritos e assovios que pareciam ser pra gente. Mais um frio na barriga. “O que será que está acontecendo? Será que a gente fez alguma coisa errada?”. Até que veio o estalo: nós pegamos o carimbo só do lado tailandês. Faltava ainda o carimbo da entrada no Camboja. O tal stamp que o homem tava falando era isso! E nós estávamos passando direto pela imigração e entrando ilegalmente no país. Só isso de errado.

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Percebendo o engano, entramos na imigração. Pense em uma delegacia de polícia de um filme do Bruce Lee, com um ventilador de teto meio capenga e guardas de farda verde. Tínhamos o processo de entrada no país super decoradinho. Sabíamos que o visto era tirado na própria fronteira, que precisávamos levar uma foto 3×4 e pagar uma taxa. E sabíamos também que eles iam cobrar uma propina de 10 dólares por pessoa (não parece muito, mas lá isso vale 3 almoços, pelo menos). Nesse ponto os blogs de viagem nos deram uma excelente dica: apontar para a placa acima do guichê, onde tem o valor da taxa e não menciona nenhum extra de 10 dólares, e bater o pé dizendo que não vai pagar.

E assim fizemos. O guarda, como previsto, insistiu. Mas como já tínhamos visto vários depoimentos de pessoas dizendo que não dava nenhum problema se não pagasse, tomamos coragem e falamos que não. Nunca me imaginei contestando uma autoridade em um país estrangeiro. Ainda mais num cenário de um filme do Bruce Lee. Mas realmente não aconteceu nada e conseguimos pegar nosso visto normalmente.

Passado o susto e já legalmente no Camboja, sem pagar propina, continuamos nossa busca por mais estrangeiros. Percebendo que não teríamos saída, concluímos que o única coisa a fazer seria escolher um taxistas para nos levar até Siem Reap. E como não tinha gringo pra dividir com a gente, tentamos barganhar o preço da corrida o quanto deu. Até que encontramos um motorista que cedeu e fez por 10 dólares por pessoa.

Só que quando a gente abriu a porta, já tinham 3 pessoas dentro do carro. E não, não eram gringos. Eram nativos. Logo, não cabiam mais duas pessoas + o motorista. Nos recusamos a entrar no carro. Só que nossas mochilas já estavam no porta malas. Foi quando o motorista disse que ia dar um jeito. E o que ele fez? Colocou duas pessoas no banco da frente. Simples!

Depois de mais esse conflito, pegamos a estrada no modo Seja o que Deus quiser, porque já estava escurecendo, a gente estava num táxi sem identificação de táxi, com seis passageiros, num país completamente estranho. No caminho, a única coisa que eu conseguia pensar é que o motorista poderia fazer o que ele quisesse e ninguém ia saber o que aconteceu. Conforme ia escurecendo, a tensão aumentava. Ainda mais que o taxista falava toda hora ao celular com algum outro nativo, numa língua completamente impossível de entender qualquer palavra. Pra mim era óbvio que ele estava planejando nosso sequestro.

Num dado momento, quando dois dos outros passageiros já tinham ficado em uma cidade no meio caminho, o motorista resolveu parar para fazer xixi. E ele parou no acostamento, no meio do nada, no escuro. Nesse momento eu tive certeza: “o cara com quem ele estava falando no celular vai aparecer e levar todo o nosso dinheiro e largar a gente amarrado na estrada”.

Mas foi só um xixi no mato mesmo. Ele voltou pro carro e continuamos nosso trajeto. Eu contava cada placa de quilometragem até que apareceu no horizonte um “Welcome to Siem Reap”. Acho que nunca senti tanta emoção na vida. Queria abrir a porta do carro [em movimento] e sair rolando pela rua, tipo filme de ação.

Foi quando o motorista parou num local próximo à entrada da cidade, abriu a porta do carro e nos apresentou um motorista de tuk tuk (veículo característico da região). Só que a gente não tinha pedido tuk tuk. O combinado era que ele nos levasse até o hotel. Então tudo fez sentido. A pessoa com quem ele falava ao celular era o motorista do tuk tuk, pra combinar de nos pegar na entrada da cidade. Como já estávamos acostumados a causar no Camboja, mais uma vez batemos o pé e falamos que o combinado não era esse e fizemos o motorista nos levar até o nosso local de hospedagem.

No fim das contas, 38 horas de viagem, muitos barracos e emoções depois, chegamos ao nosso destino sãos e salvos [e precisando MUITO de um banho], com uma história incrível pra contar!

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