13035524_10209224875764831_2066271046_o
Crônica

Road Trip: uma aventura perdidos e sem acomodação em uma zona rural do País Basco

por Juan Salomão

Desde a nossa mudança para Portugal, eu e Dudu vínhamos planejando uma viagem mais longa no verão. Como sempre nos acontece, acabamos deixando para resolver as coisas em cima da hora, e claro, as passagens de avião chegavam a preços nunca antes vistos na Ryanair. Porém, nem só de avião viaja o homem. No final de agosto, nosso amigo Jo viria nos visitar. Assim, juntaríamos o útil ao agradável para uma aventura de veraneio. Assim pensamos, assim fizemos. Alugamos um carro e decidimos sair desde Braga até Bordeaux, na França, uma jornada de quase 1000km.

A ideia de viagem de praia, céu azul e sol não rolou muito. Não se pode confiar no verão europeu. Passamos por dias nublados, pequenas chuvas, vento e temperaturas que não ultrapassavam os 16ºC. Uma das nossas paradas planejadas para a volta era a cidade de Bilbao, capital do País Basco, uma região do norte da Espanha e extremo sudoeste da França, que luta ferrenhamente por sua independência. Partindo de Bordeaux, seguimos para San Sebastián, uma cidade balneário, que também integra o País Basco e de lá iríamos para Bilbao. Tudo isso no campo das ideias, pois não tínhamos hotel reservado e só deixamos para procurar isso no final do dia. E é aí que começa a nossa aventura.

Estávamos em San Sebastián curtindo um dia nublado e de chuva, sentindo frio com as roupas de verão e pensamos: “Podemos dormir aqui”. Poder, poderíamos. Mas San Sebastián é um dos balneários mais chiques e disputados da Espanha. Ou seja, diárias astronômicas até mesmo nos hostels mais tensos. Sem problemas, podemos dormir em Bilbao. Estávamos apenas a alguns quilômetros, então não haveria grandes mudanças. Airbnb, Booking, Trivago, Hostelworld…foi uma busca sem fim. Quando a diária era pagável, não havia disponibilidade e, ao contrário, nem preciso explicar muito. Eis então que o Dudu encontrou um “Alojamento Rural” a um preço bacana, que parecia ser super bonito e estava a 50km de Bilbao. Imaginamos que se tratava de algo parecido com os nossos hotéis fazendas, ou seja, uma experiência bacana, já que a praia não estava rolando.

Pelas fotos, uma bela casa de pedra e madeira no campo. Fizemos a reserva e fomos. Paramos para abastecer e compramos uns vinhos e uma massa, só por precaução. Mas com a certeza de que não usaríamos, afinal um hotel fazenda devia contar com uma bela comida. Colocamos o destino no Google Maps e fomos. Era entardecer, que por aqui no verão é por volta das 21h30-22h. A estrada estava linda e vazia. Seguimos pelas rodovias por uma hora, até que o GPS passou a indicar entradas e mais entradas em estradas cada vez menores. As casas começaram a desaparecer, assim como a luz. Começamos a nos questionar no destino, mas confiamos no Maps. A medida que avançávamos e a estrada se tornava mais escura, passamos a sentir um belo do chamado “receio”. “Onde estávamos indo?”, “Que lugar era esse?”. As gargalhadas de nervoso começaram a aumentar no carro. Quando um veado atravessou a pista chegamos a conclusão de que estávamos, de fato, no meio do nada. O GPS dizia que já estávamos próximos, no entanto, nenhum sinal de vida. Passávamos por umas casas e pequenas aldeias que pareciam não estar habitadas. Neste momento percebemos que estávamos numa área de pequenas vilinhas e pelas placas a nossa era a próxima. Barrón era o nome de onde ficava nosso alojamento, uma pequena vila de praticamente cinco casas.

“Você chegou ao seu destino”. A casa era mesmo bonita, de pedra e madeira. Na porta, uma senhorinha de muitos anos nos recebeu. O nosso portunhol e o castellano dela não batiam muito. Pelo jeito ela não tinha recebido a nossa reserva no Booking. O que não era de espantar, pois os celulares não pegavam, 3G e wi-fi parecem nunca ter passado por ali. Como ela não havia recebido o pedido, não havia quarto para nós três. Apenas uma acomodação compartilhada. O quarto era grande, 10 camas e haviam dois senhores que estavam trabalhando no campo “no verão” e estavam dormindo lá.

Não havia comida ou qualquer café por perto. Esta hora agradecemos pela massa e o vinho comprado. Sentamos na varanda da casa, a temperatura não passava dos 12ºC e o céu revelava todas as constelações do Hemisfério Norte. Durante as primeiras duas horas quase não nos falamos. Estávamos espantados com tamanha simplicidade, beleza e aquela sensação de estarmos fora da zona de conforto. Já de madrugada o filho da senhorinha chegou e conversou conosco. Nesta hora, depois do vinho, o portunhol passou para o nível avançado e a conversa fluiu. Futebol, Rio de Janeiro e todo aquela história que os gringos adoram ouvir. Rimos, papeamos e falamos bastantes. Mas estávamos os três em um estado de graça com aquela experiência. A noite foi tranquila, apesar dos roncos dos dois senhores, provavelmente exaustos dos dias no campo. Passeamos pela vila e vimos que realmente não havia nada. Descobrimos que esta região é bem turística, ecoturística, mas nada muito desenvolvido. A senhorinha, simpática desde o início e consciente da nossa situação perdida, nos presenteou com um saco com uns dois quilos de nozes. Voltamos pelo mesmo caminho, porém agora de dia, enxergando melhor as vilas e a beleza dos campos. Seguimos viagem com destino a León, conversando, mas ao mesmo tempo em silêncio, extremamente tocados pela noite que havíamos passado, no meio do nada, em pleno País Basco.

País Basco País Basco País Basco País Basco País Basco País Basco

DEIXE SEU COMENTÁRIO